Timidez e Retraimento na Infância – Pode ser autismo?
TEA – Transtorno do Espectro Autista tem caráter dimensional - Na 5ª edição do Manual Estatístico dos Transtornos Mentais- DSM 5 - (APA, 2014; Paula et al, 2017), o autismo passa a ser compreendido como um espectro. Um continuum de apresentações clínicas, com muitas variações e definidas a partir de níveis de gravidade e formas de expressão comportamental.
Cientistas identificaram características comuns e variações em dois grupos nucleares do TEA – déficits na comunicação social e interação social e presença de comportamentos restritos e repetitivos, interesses ou atividades (Júlio Costa & Antunes, 2017). O termo TEA compreende um grupo de indivíduos que desde a infância apresentam uma variabilidade de alterações qualitativas e com diferentes níveis de comprometimentos na comunicação social recíproca, na interação social em diferentes contextos(casa, escola, ambiente social), e padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses ou atividades (APA,2014).
A etiologia do transtorno do espectro autista ainda permanece desconhecida. Evidências científicas apontam que não há uma causa única, que resulta de uma interação entre fatores genéticos e ambientais (Júlio Costa & Antunes, 2023; Bai et al., 2019; Paula et al.,2017; Júlio Costa & Antunes, 2017; Russo etal.,2019).
Embora a genética represente um papel significativo no autismo, a ciência estima que pelo menos 1097 genes entre uma variedade com mais e menos importância, sendo estudados com alguma relação com o autismo, segundo o maior banco de dados do mundo sobre a genética do autismo (SFARI Gene). 134 genes estão ligados ao transtorno (Hoang et al., 2017). Embora muitos desses genes possam interagir e estejam relacionados, eles ainda são distintos. Esses genes fornecem o código para proteínas que executam as mais variadas funções, desde orientar como as células cerebrais se conectam, a como os genes são ativados e desativados no núcleo das células. E como permitem a passagem de moléculas através de suas lembranças? Cada um desses processos, distintos causam diferentes efeitos no cérebro, que se cruzam de inúmeras maneiras.
As coisas ficam ainda mais complicadas pelo fato de que esse efeito genético combinado interage com a história, desenvolvimental com a aprendizagem e com a personalidade da criança, o fenótipo.
Quando falamos nas influências do “ambiente” estamos nos referindo as experiencias maternas e paternas mesmo antes da concepção, continuando durante a gravidez até o início da vida, continuando ao longo do desenvolvimento. Estudos investigam fatores ambientais que podem contribuir para o risco de autismo. Dentre os riscos sugeridos estão asfixia perinatal, prematuridade, baixo peso ao nascer, exposição a alguns fatores ambientais durante a gestação, como uso do álcool e outras drogas, tabagismo ativo ou passivo, condições de saúde materna durante a gestação, exposição fetal ao ácido volproico e idade parental avançada (APA, 2014; Bai et al., 2019; Russo et al., 2019).
Se você conheceu uma pessoa com transtorno do espectro autista, saiba que ele é único, as outras pessoas com transtorno do espectro autista são todos diferentes em termos de sintomas, comportamentos, funcionamento cognitivo, inteligência, emoções e sentimentos.
O reconhecimento de que o autismo não é uma condição única é essencial para a compreensão da necessidade de individualizar os planos para portadores de TEA. Uma abordagem única não terá eficácia para todas as crianças. As intervenções devem ser apropriadas para cada caso.
Atualmente entendemos melhor qual a essência do espectro autista. A comunidade de cientistas, pesquisadores, estudiosos tem maior compreensão e habilidades para identificar o autismo mais precocemente (a partir do 30º mês de vida), direcionar o processo desenvolvimental apropriado considerando a plasticidade cerebral (capacidade de adaptação do cérebro) e sua receptividade às intervenções. Atualmente o autismo não é uma sentença de sofrimento eterno. Estudos comprovam que se o diagnóstico precoce, com as intervenções corretas e apoio familiar e da comunidade faz as pessoas encontrarem seus talentos e perspectivas peculiares, percebendo que a diversidade contribui para o sucesso de toda a humanidade.
O diagnóstico não é para mudar quem a pessoa é, mas para ajudá-la a maximizar suas potencialidades e encontrar oportunidades para que possa escolher livremente e se transformar na pessoa que desejar ser.
Por não ter um marcador biológico, o diagnóstico de autismo é clínico (Paula et al.,2017; Júlio-Costa & Antunes, 2017) e se constitui um desafio para profissionais que não possuem experiencia clínica com indivíduos com TEA. O diagnóstico é através de observações comportamentais dos sinais e sintomas estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM5 e de saúde: CID 11. O profissional precisa entender os critérios diagnósticos dos demais transtornos neuropsiquiátricos para fazer diagnóstico diferencial entre o TEA e outra condição psiquiátrica, e para avaliar a existência de comorbidade associada. Sintomas do TEA estão presentes também em outros transtornos como por exemplo no TDAH e no transtorno de ansiedade. É preciso expertise do profissional para não dar um diagnóstico falso positivo ou falso negativo. Em alguns casos o diagnóstico se torna temporalmente inconclusivo, até que os sintoma ou sinais possam ser claramente observados e caracterizados.